10 de outubro de 2008

Fundamental é mesmo o amor... será impossível ser feliz sozinho?


Muitos poetas cantam o amor e a falta dele.

Mas é bom amar? Até que ponto sentir o coração bater mais forte é positivo?

Eu sempre gritei em alto em bom som que amar era a melhor coisa da vida. Amar sempre me fez me sentir viva. Eu sempre achei que quando eu amo eu fico mais bonita, porque fico feliz. Tatuei nas minhas costas a frase Fundamental é o amor. Até que um dia o amor teve o efeito contrário. Eu, que sempre me senti a "menina mais feliz do mundo", como eu dizia, depois de um tempo parei pra pensar há quanto tempo eu não sorria. Nesse dia entrei na terapia.

O motivo da falta de sorriso não era o amor. Era a falta de amor. Ou talvez a falta de sincronismo no amor. Eu era amada por outras pessoas, mas não pela pessoa que eu queria que me amasse. Meu amor mentiu pra mim e eu me decepcionei. Me lembrei que eu já havia mentido para outras pessoas que me amaram e elas me perdoaram. Tem a máxima que diz quem ama perdoa. Perdoei. Adianta perdoar? Acho que adianta se não houver reincidentes. Mas o amor é cego? Se for, é injusto. Injusto porque a gente ama só o que quer ver. E não nos baseamos na verdade para fazermos nossas escolhas.

Mas de quem é a culpa? Quando um amor não dá certo, é comum termos ressentimento daquele que não nos amou. Como pode uma pessoa não reconhecer tudo que fizemos? E todas as surpresinhas? Os presentinhos fora de hora? A cartinha que levou três noites em claro para ficar pronta? A viagem planejada com seis meses de antecedência? A fidelidade? Ah, a fidelidade...

Quando a gente ama, a gente espera que o outro faça conosco o que fazemos por ele. Mas nem sempre é assim. O que é bom pra gente pode ser chato pro outro. E ao amarmos, nos tornamos egoístas. Queremos que o outro fique feliz com o que nos faz feliz. Há quem diga que isso não é amor.

Tem o pessoal do if you love somebody set them free. Se você ama, tem que dar o espaço que o outro precisa, mesmo que não seja o mesmo do seu. Tem que compreender as diferenças, tem que apoiar mesmo que não concorde. Essa é outra linha de pensamento. Não vou julgar qual é a certa. Eu só sei em qual me encaixo. Sei???

A vida inteira eu achei que tivesse uma linha. Achei que o amor me fizesse ter um comportamento só e que isso era amor. Quando eu sentia, sabia que amava. Eu achava que amor era quando eu me sentia bem com a pessoa e ela comigo. Era quando nada era um sacrifício, tudo acontecia porque os dois queriam. Descobri que sempre foi assim antes porque sempre tive sorte. Eu me apaixonava por quem se apaixonava por mim. Ou por estar sempre feliz e apaixonava, atraía mais amor pra perto de mim. Eu era sem dúvida muito mais bonita e atraente. Eu nunca precisei de joguinhos, de fingir desinteresse, sempre desprezei esses artifícios que não julgo coerentes com as relações que quero ter.

Chegou um dia em que o meu amor era diferente. Eu me dedicava a uma pessoa exatamente como me dediquei aos outros amores que tive. Eu não fingia. Eu era espontânea, era sincera, era compreensiva. Pra mim não havia porquê desconfiar de quem está ao meu lado, afinal se estamos juntos é porque queremos. Mas isso era pra mim. E dessa vez não era para quem eu amava. Me deparei com o inesperado. Me peguei apaixonada por uma pessoa que não me dava o que eu sempre tive antes. Ele me dava um pouquinho e depois tirava. Me dava uma pontinha de esperança e depois puxava. E eu me vi num rolo que eu achava que era amor, mas era bem diferente. Será que o amor causa dependência química?

Era assim que eu me sentia. O amor dele era como uma heroína pra mim. No início, vê-lo me seduzia. Me dava um prazer sem igual. Melhor que tudo que eu já tinha experimentado. O mais engraçado é que eu sabia que era uma roubada, mesmo sem ter a menor idéia do que acontecia fora do meu mundo imaginário com ele. Aí eu fui ficando dependente, queria uma freqüência maior, depois mais quantidade, e passei a só pensar nisso. Deixei de ser quem eu era. Envelheci. Tive a oportunidade de me desintoxicar, mas desperdicei. Me arrependo profundamente. O antídoto era doce e nem seria tão doloroso. Mas eu só pensava no efeito que ele me causava quando eu podia ter uma migalha daquilo que fosse, mesmo sabendo que o fim seria a ruína. Eu tinha crise de abstinência quando me afastava. Fiz tudo que um viciado faz. Menti pra quem me amava, enganei meus amigos, me afastei de quem rejeitava meu vício. E tem a turminha oposta também. Os "amigos" que dão força, que falam o que tem? você tem que fazer o que você quer e ninguém tem nada com isso. Mas todos tinham sim. Eu desprezei a opinião de quem me queria bem e fiz sofrer todos aqueles que se machucavam com o meu sofrimento também.

Tive muitas recaídas e reabilitações. Quando eu achava que já estava curada, lá estava a droga na minha frente e eu não resistia, mesmo sabendo que jogaria toda a recuperação no lixo. O pior é que a culpa não era dele. Não tenho raiva dele. Tenho raiva de mim. De me permitir passar por isso tudo. De fingir estar bem e ser forte. De deixar passar na minha vida pessoas que se mostraram dedicadas e verdadeiras e perdê-las pra sempre, machucando-as. E aí eu, que me achava apaixonada, me pergunto: será que isso é amor?

Novamente, não quero julgar o que é o amor ou como deve ser. Mas eu descobri que, o amor que eu quero não é o amor do mundo dos sonhos. Eu quero um amor que me faça bem como os que tive antes, um amor bom enquanto durar, como sempre foi. Esse não teve nada de bom enquanto durou. Não tenho nenhuma lembrança boa. Isso porque não vivi a realidade nem um dia. Tudo que eu tive foi fruto da minha imaginação. Eu achava que vivia uma vida que não era real. Eu fiz planos que nunca se realizaram. Eu planejei baseada numa encenação, e quando eu vi onde eu estava, eu não queria mais me levantar da cama. Não tinha mais vontade de acordar, achava que não tinha motivos.

Mas eu acordei. Eu me reabilitei. Eu vi que viver a verdade é melhor. Que é bom estar lúcida. É justo ter o direito de escolher baseada na verdade. Só que fiquei com um problema: a associação do amor a uma experiência ruim, que anulou tudo de bom que eu já havia vivido antes. Agora que eu estou de volta à vida real, tenho medo de me perder novamente num caminho de ilusões. Sei que tão cedo não vou me entregar ao amor novamente. E me pergunto se é mesmo impossível ser feliz sozinho.

Eu não me sinto sozinha hoje. Pelo contrário. Eu me sentia antes. Hoje eu enxergo meus amigos novamente. Consigo me divertir comigo mesma. Vejo novamente como meu sorriso é radiante e bonito. Vejo que eu sou muito melhor do que eu me sentia quando estava triste por amar alguém que não queria o mesmo que eu e vi que o segredo de amar é o equilíbrio baseado na verdade. Antes, eu perdi tempo, e hoje sei que meu tempo é precioso e vale menos alguns anos que joguei fora - ou mais, se eu os recuperar.

Sim, concordo que if you love somebody set them free. Assim é melhor para os dois lados. Para o amado, que não fica obrigado a fazer o que o amante quer para correspondê-lo, e para o amante, que, sabendo da verdade, pode escolher os caminhos que tomar, sem ser enganado. O importante é ter respeito. O maior inimigo de qualquer relação, seja de amor, de amizade, familiar ou profissional é a mentira. Se seu amor não consegue ser feliz com você, deixe-o ser feliz longe. E você ficará feliz com sua realização. Se isso não ocorrer, não era amor. Era vício.

E para aqueles que são amados mas não têm o mesmo amor para retribuir, um conselho: não enrole quem se dedica a você. Não gaste o tempo e o sentimento dos outros. Não seja covarde e não pense que é mais esperto que quem te ama. Quem te ama só é mais cuidadoso com você, não é bobo. Quem ama sabe quando está sendo enganado, só prefere acreditar que se insistir vai dar certo, já que esse é seu desejo.

Hoje eu acho que o amor mais importante é o amor-próprio. É importante se conhecer e saber seus defeitos e qualidades. Isso eu vou levar a vida inteira pra fazer. Mas de uma coisa eu tenho certeza: não amarei a ninguém mais que a mim mesma novamente. E isso será bom para todos que cruzarem o meu caminho.

Um beijo especial para aqueles que eu amei e que ainda fazem parte da minha vida, depois de termos decidido caminhos diferentes não por falta de respeito, mas por sensatez e justamente por querer bem um ao outro depois de tudo que passamos juntos. A amizade que ficou nunca se abalará. Nosso amor foi uma troca e todos ganhamos, ninguém dividiu, só somou.

Pra mim, isso é o amor: quando você soma ao invés de dividir.

Foto: Marco Sobral

Um comentário:

Thais Linhares disse...

Linda história, tesouro que garimpei na Internet em madrugada de reflexão sobre meus próprios amores. Felicidades e boa sorte pra ti!