Eu fui direto de um evento em Manaus, então o voo foi bastante longo. Fiz escala em Brasília e dormi em Recife para só então pegar o voo de uma hora para o paraíso. No aeroporto de Recife, uma surpresa: os familiares dos habitantes da ilha tentam enviar mercadorias via viajantes, devido ao elevado custo de vida de lá. Fiquei com medo por não conhecer a menina que me pediu e não saber o que tinha na bagagem, mas ao chegar lá me arrependi por não ter ajudado. Vi que todos fazem isso e eu poderia ter evitado que aquela família pagasse muito caro por carne.
Fernando de Noronha tem cerca de 3 mil habitantes e número limitado de turistas. Os moradores têm uma vida cara e difícil. A ilha não tem prefeito, tem um administrador que é indicado pelo governador de Pernambuco e que mal aparece lá. Para tudo é preciso pedir autorização, por conta da preservação, o que é justificável, mas a população leva meses e até anos para receber uma resposta. A autorização para comprar um carro custa R$15 mil e um bugre velho custa R$60 mil. Todos os habitantes vivem do turismo e uma forma de fazer um pouquinho mais de dinheiro é transformando suas casas em pousadas domiciliares, mas para isso também é necessário autorização. Se o telhado voa com uma tempestade, é preciso pedir autorização para comprar telhas e reformar. Se uma mulher engravida, é obrigada a voar para Recife no sétimo mês de gravidez, para não nascer mais cidadãos da ilha, e assim não ter a obrigação de ajudar essas pessoas e não dar a elas nenhum direito ali.
Visitei a única escola da ilha, onde todas as crianças, adolescentes e até os adultos estudam. A diretora, que nos recebeu com muito carinho e interesse, se mostrou uma pessoa muito esforçada em fazer algo por todos, mesmo com pouquíssimos recursos. A escola oferece cursos em convênio com o SEBRAE, SENAC, etc para melhorar a recepção ao turista e pelo que eu vivi lá, acho que esses cursos devem ser excelentes.
Só tem um posto lá, e hoje a gasolina custa R$4 o litro. No Rio, o litro custa R$2,70. Tudo chega na ilha de barco ou avião e custa muito. Pena é todo mundo ter que lutar tanto por um pouco de qualidade de vida, morando naquele paraiso natural. Mas vamos deixar esses problemas de lado e pensar no turismo.
A chegada na ilha já é impressionante. Do alto, no lado direito do avião, avistam-se os Dois Irmãos, cartão postal do arquipélago, e a ansiedade por desbravar tudo só aumenta. No voo, só casais em lua-de-mel, e alguns poucos turistas europeus, impressionante.
O aeroporto é bem pequenininho. A ilha só permite a entrada de até 400 turistas simultâneos, e é preciso pagar uma taxa diária de permanência. Uma boa dica é pagar adiantado pela internet, assim o visitante não fica numa fila grande ao chegar no aeroporto.
Eu estava com medo de como seria a pousada. Quando reservei, era o último quarto da ilha, e eu sabia que a maioria das pousadas lá eram domiciliares. Um transfer nos esperava na porta do aeroporto e nos levou à Pousada Leão Marinho. Chegando lá, a dona, Marilucia, nos esperava na porta. Com uma voz calma e macia, Marilucia gastou pelo menos 30 minutos conosco explicando sobre a ilha e dando dicas de passeios e como economizar. Indicou a valiosíssima Silvia, sua vizinha ali de perto, que preparava um delicioso peixe do dia na brasa com salada por apenas R$25 por pessoa. Indicou também o guia David, que no dia seguinte fez o Ilhatour conosco (ilhatour é como eles chamam o city tour na ilha).
Marilucia foi incrível durante toda a hospedagem. Nos tratou como filhos e preocupava-se com cada detalhe. Honestamente, nunca fui tão bem tratada em hotel 5 estrelas nenhum no mundo. Era ela mesma que cuidava de tudo.
O tour na ilha foi ótimo. Foi bom porque o guia era muito atencioso e morador da ilha, e porque assim nós conhecemos a ilha e escolhemos os lugares que mais gostávamos para visitar novamente depois.
A baia do Sueste foi marcante. Lá foi nosso primeiro mergulho na ilha, e somente com o snorkel foi possível nadar com tartarugas, tubarões, peixes coloridos, arraias e avistar corais e esponjas lindos.
A paria do Sancho, eleita várias vezes a mais bonita do Brasil, faz jus ao título. A água azul claríssima e morna tem visibilidade incrível e o mergulho lá é lindo. O acesso é dificultado por uma trilha moderada e a praia é quase deserta.
Ali do lado ficam a Baia dos Golfinhos e a Baia dos Porcos (fotos abaixo). Na Baia dos Golfinhos, se você acordar cedo e estiver lá às 6h, consegue ver a chegada dos golfinhos rotadores todos os dias. Lá eles ficam em estado de repouso até o começo da tarde, quando saem novamente para caçar no mar. Na Baia dos Porcos, de água azul fluorescente, as piscinas formadas na maré baixa convidam ao banho.
Outro passeio imperdível é a trilha do Atalaia. Só dá pra fazer com um guia e com reserva de horário no Ibama. Não é permitido usar filtro solar ou mesmo encostar o pé nos corais das piscinas naturais formadas na maré baixa, para preservar as espécies.
A ilha tem dezenas de lugares lindos de visitação obrigatória. Praia do Cachorro, Buraco da Raquel, Museu do Tubarão, o porto, ponta da Air France, Cacimba do Padre.
A visita ao Tamar é obrigatória. Todos os dias tem uma palestra noturna sobre vida marinha em Noronha, sempre de uma espécie diferente, e dicas de como apreciá-las na ilha.
Agora um assunto que muito me agrada: comidinhas. Tudo que comi lá foi ótimo. Frutos do mar, sempre! Carne lá é caríssimo e de péssima qualidade. Peixe, tubarão, camarão, siri, tudo é bom e fresco. O peixe da Silvia, recomendado pela Marilucia, era realmente excelente e barato. Mas foi a única coisa boa e barata da ilha. Tudo era bom mas muito caro. O Bistro da Cacimba foi excelente. Cardápio criativo e delicioso. Não aceitam cartão. O restaurante da Edilma também estava ótimo. Comemos uma sinfonia de frutos do mar caprichada. Custou R$88. No museu do tubarão tem hamburguer de tubarão. Vale a pena experimentar. O Chica da Silva é imperdível. Bonitinho e delicioso.
Não tenha pressa em Fernando de Noronha. O atendimento é excelente e educado, mas tudo demora um pouco. Internet é um problema sério. Não vá, como eu e Flavio, durante a semana de trabalho achando que vai se dar ao luxo de fazer um home office da praia. Foi um estresse total. Na ilha tem internet wi-fi gratuita, mas na velocidade da tartaruga em terra, quando está no ar.
Voltaremos com toda certeza. De férias, dessa vez. Já queremos começar a fazer os planos. Não há lugar mais bonito que esse nos destinos que já conheci.